“É noite em tantas existências”,
e, quando se trata do interior das almas, isso nos remete a dois eflúvios: O
adormecer e o anátema. Ambos mórbidos e silentes, vivem nos deixando em dúvidas
atrozes apenas estando a vagar por nossas cabeças e só podem ser encontrados
nos olhos.
Na noite
tudo é negro. Se não o é, é iluminado por um luzir tão mórbido quanto a treva.
As flores mais cheias de cor (dessas que ornam qualquer jardim); as ramas mais
vistosas e cheias de vivacidade; os olhos mais verdes (desses que parecem ser
duas esmeraldas a nos vigiar)... Tudo! Tudo se parece com o fundo celeste
noturno que nos cobre. As cores desaparecem, a paz trepida, o amor enlanguesce,
a lágrima é mais dorida e tudo isso só é como é por ser noite.
Um
homem à deriva num diferenciado mar durante a noite (não digo que seja um homem
qualquer, a menos que seja qualquer sonhador ou qualquer poeta). Adormecido
nesse mar –um mar de filaúcias e detalhes- tudo o que tem é a embarcação onde
se encontra. Uma embarcação fria, sobretudo, mister. Tinha a palavra “poesia”
gravada na lateral direita.
Não é o
mar, com suas ondas tempestuosas e ferozes, arrebentando-se nas bordas da
embarcação à deriva que rege o destino do poeta e sim a própria falua. Ela dá à
mente do desesperado emoções arrebatadoras e cruéis e também sensações de
calmaria ante à tormenta. Aniquila a razão do homem e constitui a lei absoluta
na psique de tal sonhador.
O
negrume do mar (que são os anátemas avolumados) é vivo, como as plantas citadas
anteriormente. Isso até que a estrela-mor pare de iluminá-lo, dando a ele um
tom fúnebre; mórbido... Não é plausível crer que uma rosa vermelha-
simbolizando o amor- possa recamar um coração sendo a cor de suas pétalas
ofuscadas pelas trevas.
Nós
adormecemos na serenidade do balanço das ondas de anátemas. Desses nos
esquecemos. Só nos lembramos quando qualquer espinho nos penetra fundo na pele,
rasgando-nos e fazendo-nos com que olhemos a imensidão desse negro mar. No
primeiro momento, pranteamos e esperamos que o mar tenha um fim; que uma praia
segura, morna e clara nos espera ansiosamente. Nada fazemos, além do que não
devíamos fazer.
Sem nos
distanciar-nos do interior das almas, falemos de aurora. Ah! Como é bela! É
pacificadora e ofuscante, inda quando ainda é simples albor; simples silhueta
de doirada luz no horizonte eloqüente. Revela-nos tudo aquilo que a noite insiste
em ocultar: As cores, a vida, as soluções... Tudo aquilo que nos aquieta as
almas.
Amanhecendo.
O poeta se perde no fascínio pela luz, após tanta escuridão em seu olhar.
Contempla o sol alucinado, não
ocupando-se com os anátemas. Não nota que tudo ao seu redor ganha vida e cor.
Jamais há de notar; seus olhos são enfeitiçados pelo devaneio vaporoso que é o
nascer do dia. Necessita da beleza da luz, mas não repara no que ela
proporciona.
O dia é tedioso e nele não há tempo de divagar nesses delírios coloridos. O que
se sabe é que quando as margaridas alvas começam a ficar cinzentas; quando o sol
vai se afogar em seus próprios anátemas, deixando-nos com os nossos, o poeta
desperta novamente. Desperta para notar que “é o fim”. Desperta para chorar as
suas derrotas que, durante o dia, não notou que eram empates e até vitórias.
Tudo é
treva novamente... Se queres saber o que acontece após o despertar do poeta,
releia tudo de novo. Esse é o ciclo do ID poético.
Ervália, 12/03/2013
Cristiano Durães
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