Marcadores

segunda-feira, 20 de maio de 2013

FIM DE "MARCO ZERO"

Vagabundo vazio em manhã de domingo

Vagabundos tão quietos agora!
Vagam mudos pela aurora
Vendo-se parte da fauna e perto da flora;
Varrendo os desejos mente afora.

"Algoz" realmente tem que rimar com "atroz"
Assusta-nos... é robusto; feroz.
A demência do sangue dá a nós.
A sua desdita é digna e veloz.

E o vazio vagabunda comigo,
Entre esses resquícios de abrigo
E a serenidade da manhã de domingo.
Existe vazio vagabundando contigo?

Ervália, 19/05/2013

Cristiano Durães

Aviso aos Navegantes

Brindemos às nossas vidas e cóleras,
Já que o ímpeto nos faz prepotentes!
Chamemos nossas mentes de víboras
Já que não aceitamos quando chamam-nas de serpentes!

Eis a lástima das existências poéticas:
Ouve-se o que é mudo; encherga-se os invisíveis.
Eis os adjetivos atribuidos às verdades patéticas:
Poentas, morimbundas e imprescritíveis.

"Cansado" é o termo correto.
E quanto às promessas eu fico quieto,
Já que o impulso que me dá o ímpeto
Já foi por mim tantas vezes prescrito.

Terra do Nunca, 20/05/2013

Cristiano Durães

segunda-feira, 13 de maio de 2013

Onde estamos?

Aqui...
É onde a noite noctívaga-
Trajando ultraje e luto-
Silente vaga
Em seu reinado devoluto.

Lá...
É um lugar com nome de acorde.
É o tom do grito que se envilece.
Antes que o suspirar acorde,
É lembrança que se esquece.

Aqui...
Criva-se as noites impetuosas
Com o amargo do sangue
Que palpita nas trilhas venosas
E se derrama turvo e langue.

Lá...
Beijas os sonhos venenosos
Com teus lábios sujos de dor.
Não sei onde há união nesses casos...
"Lá" sempre será longe; seja onde for!

Aqui, 13/05/2013

Cristiano Durães

Pensamentos de um segundo de saudade

Tanto pranto sorrindo;
Tanto sorriso pranteando...
Tanto tempo se olhando no espelho,
Vendo tanto frio e tanto vazio
Que tanto me indago frente o nada que olho.
Tanta flor nesse quarto...
Um quarto de hora onde tanto se faz...
Tanta melodia no fundo do peito,
E num devaneio profundo tanto se é medaz...
Tanto "tanto" e,
No entanto,
Tanto se quer tanto falar
E tanto se fala em tanto querer...

Ervália, 13/05/2013

Cristiano Durães

quinta-feira, 9 de maio de 2013

Ame!

                                        A esperança não deve findar!
                                        E esta deve junto caminhar,
                                        com a mais sublime sensação.
                                        

                                        Esta não vale menos,não,
                                        Sempre,na guerra e na paz deve estar,
                                        A sublime sensação de amar!
 
                                                                          André Luiz

Questione,
Pois feliz é aquele
Que busca o saber;
Assim o forçado
A luz há de rever.
                                              
Observe,
Pois feliz é aquele
Que vê-se amanhecer
Por vezes enfermo e dorido
E sagrando o próprio ser.

Lute,
Pois imbatível é aquele
Que não renega o futuro
E sim a treva sem termo
A deixar o pensar impuro.

Alimenta-te
Do enlevo mais sereno
Na prece e na oração.
Honre teus sonhos em vida;
E o amor mais ameno
Não ouse tirar do coração.

Ervália, 09/05/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 7 de maio de 2013

Sopro sombrio

                                        
                                           "A palidez não permanece;
                                             O cheiro requer uma prece
                                             Pra pedir a qualquer deus
                                             Que os caminhos teus
                                             Sejam mais belos e floridos
                                            Do que os instantes por mim vividos."



Um sopro... 
E nos olhos perde-se o nome.
Dança a lápide solta
E no negrume some...
É flor que não perfuma
E é dor que não perfura.
E na presença da alma
A mão revela-se impura.
Não! Faça silêncio!
Olha que mimo de mulher ali deitada!
E o palor já se perdeu há tempos
É só lembrança assutada.
E o quanto o instante
Se fez sombrio
É o quão nobre foi o beijo
Na frieza da tua tez.

Um sopro morno...
Pareceu se soltar...

Ervália, 07/05/2013

Cristiano Durães

quarta-feira, 1 de maio de 2013

Cacos de taça

I - O Cenário

Noite...
Tão lasciva quanto o dia;
Tão infame quanto a sorte.
E nas nódoas da melodia
Vaga o desalento torpe.
Verdade...
Tão leviana quanto a lua;
Tão mister quanto a sanidade.
É rude esa rima crua...
Alucina essa turva labilidade.

II - O ato

Embeba-me do fluído
Que alegra as psiques,
Independente do ruído
Dos ingratos "por ques".
Nessa taça quebrada
Existe o perigo langue
De cortar a boca calada
E misturar o vinho ao sangue.
Oh! Céus! De quem seria
Esse ato de se embebedar
Com vinho sangrento e poesia
Apenas pra sentir um amar?
Talvez seja cultura
Que meu etnocentrismo não deixa respeitar.
Talvez seja loucura
Que me remete a uma rima que alguém vai criticar.

III - Pedidos e explicações

Não me pergunte o motivo
Pra com tanto vinho eu me inebriar.
Sinta-me inerte, jamais vivo.
Talvez assim possas se acostumar.
É pensamento que se derrama
Nesse romantismo mal amado.
Não chamo mais de leito a minha cama
Já que nela não me sinto mais deitado.

São fantasmas noctívagos
Jogando-me no chão feito um beberrão.
São ideais que mentem- tão vagos-
Que um caco de vidro enterra no coração.

Ervália, 30/04/2013

Cristiano Durães

Soneto a um agonizante

Determinado acalanto insiste
Em ausentar-se com virtuoso afã
Desse vil coração que trina triste
E desmaia a cismar ovante e louçã.

Se desvairada vertigem abre
Um negro portão; um cemitério altivo.
Queimando-se em feroz receio e febre,
Caminha ao ermo pelo que não é vivo.

Não se perde. Talvez  porque vê o muro.
E, num delírio, desaba-se em pranto
Por ver que ali é demasiado escuro.

Não se intimida com seu próprio canto,
Já que num gole fatal e tão puro,
Dorme tão sereno no ápice do encanto.

Ervália, 23/04/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 23 de abril de 2013

Presságio dos seguintes ciclos

Que eu seja apenas esteio
A mitigar os cantos mais tórridos;
A queimar-lhe o seio
Cismando com esses devaneios ávidos.

Que esse lenir não seja ao léu.
Adamítico é esse idílio torvo
Que estilhaça-nos com o anil do céu,
Difamando-nos ante o alvo e o corvo.

Amarra-me com um trancelim
Nesse teu leito que matizo agora.
Implacável e árduo será assim
O ato de não rever a aurora.

Já que partiste no zênite,
Queima-me no regaço de gozo
A decepar os anjos de cada instante
Num devaneio pútrido e ignominioso.

Talvez no repente mais singelo
Coroaremos o negrume dos nossos leitos
Com o ideal noctívago do belo
E com o ilídio que arde nos nossos feitos.

Ervália, 23/04/2013

Cristiano Durães

Num escuro quarto de hora

Prodigiosa é a cura
Que se mostra imagística.
Tão divina quanto impura,
Resvala-se na mão mística
Do marcado verdugo
Mais sábio que Victor Hugo.

Proeminente epopéia
É o envoltóio da solitude
Que cobre a platéia
E assassina a juventude.
Tênue- arruina as honras pretéritas
Das mais eloquentes "veritas"

E, na verdade,
Continua rude
A palavra "saudade"...

Ervália, 22/04/2013

Cristiano Durães

Analisando aa situação interna

E, de repente,
A manhã mente
Revelando a silhueta das matas;
Berrando nas vicissitudes mais castas.
Ela diz que é salvadora...
Diz que o luzir que emana é o que doira.

E, de imediato,
É silente o ato.
Quando o leito é poento
É estrondoso o arrependimento.

Se menor for o sorriso,
"Si menor" entoa tão liso!
Os violinos de Bach 
São punhais no peito de quem desaba
Ao saber que a rosa murchou.
Ee já que anônimo eu não sou,
Não me pergunte meu nome.
Perguntar apenas some
Com o impulso dado pela morte
E pela dor de um profundo corte.

Ervália, 21/04/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 16 de abril de 2013

Na tua lápide...

Sabe, amor...
Os céus também choraram;
Os pássaros não cantaram
Só porque tuas mãos se descoraram.
Escrever é tão complicado
Se quando abro meu caderno
Vejo teu desenho ali gravado!
Se teus anseios a umedeceram...
Se teu nome permanece junto ao meu...
Se já não brilhas como o camafeu...

Sabe, amor...
Sei que sabes
Do quanto és mister.
Promessas sempre serão promessas;
Estejas onde estiver.
Não há razão numa pedra fria.
É turva a languidez dela
Quando emana cinzenta nostalgia.
E eu acho tão funéreo
Esse teu leito florido;
Esse negrume coroado
Com tantas lágrimas orvalhado...

Sabe, amor...
Tanta chuva me molhou
Nessa tarde preta e branca!
Tanto pranto na face se escoou...
Memórias já perdidas
Retornam devagar
Ao vazio de um lugar
Que deu tanta cor-
Em meio a tanto ardor-
Para aquilo que chamávamos de amor.

Sabe, amor...
Não pude tocar-lhe a fronte...
A frieza da tua tez
Regelou aquele instante.
Esse vazio que corrói
Bem mais que um amor distante
Enaltece-se a cada instante,
Querendo se apossar.

Prometendo jamais deixar
Alguma rosa alva murchar;
Hei de te falar quando chegar;
Teu leito tristonho sempre hei de recamar.

Sabe, amor...
Eu poderia perguntar-lhe
Se devias partir assim;
Crendo que a vida é mero detalhe...
Detalhe que a unia a mim...

Ervália, 11/04/2013

Cristiano Durães

Soneto do desconforto

Tão leviana é a mão que me toca 
Que desejo-a com  virilidade
Que o doirado do sol no vil céu retoca
A tão leviana cor da vaidade.

É nobre o afã letal que me assola,
E, seu ansiar se nega ante ao dever.
A petulância no coração cola,
Incomodando-me e fazendo-me ver...

Ver que não é volátil a noite escura;
Ver que não cessa o bombardeio voraz;
Ver que o meu peito se enche de fissura.

Fissurado por qualquer vida sagaz
Que- me enaltecendo- o meu afã procura,
Dando-lhe a cura pra chaga mais tenaz.

Ervália, 10/04/2013

Cristiano Durães

Feito de plástico

Há dias de sol diminuto
Nos quais o pranto é absoluto
E as rosas dos ventos
Não são rosas; tem aspectos cinzentos.
Há dias nos quais o "Lá"
É apenas um lugar com nome de acorde...
Acorde menor a entoar lá-
Onde o frio não nos acode.

Há dias de desejos sem ar
Suplicando pra poderem se corar.
Há beijos de amor verdadeiro
Que não existem nem no nevoeiro.
Há dias de sonhos em que o fim
Inicia-se com o fim de um ciclo.
E, embalde a bela lua de marfim,
Me jogo fora e depois me reciclo.

Reciclando-me eu anseio
Sem inspirar a musa ovante
Que delira o nível seio
E o sonho do torpe amante.
É um dia com medo de amar
Sem sentir o belo no ar,
Mesmo ante o infinito límpido e anil.
Como pode a vida ser tão vil?

Ervália, 10/04/2013

Cristiano Durães

Versos íntimos

Coroemos as noites escuras
Com o langor do céu.
Façam-me cobrir esculturas 
Com o mais negro véu.
E em dias de sóis e culturas
Amemos o calor tão tórrido.
Nas gotas das turvas chuvas
Deixemos o devaneio mais sórdido. 

O peito cavalga tonante
Na estrada da poesia.
É uma estrada que num instante
Nos enche de nostalgia.
Ora florida e rescendente;
Ora inerte e sem vida.
Nela vaga- tão ardente-
O anjo com sua ferida. 

De amor e fraqueza me infesto.
São insídias com atroz eflúvio.
Crer é como raio infausto
Que antecipa o dilúvio.
E quando chega a tormenta do pranto
Me resta amar o vinho e o fumo.
Que importa se o falso encanto
Em mero capricho eu resumo?

Talvez os versos me tomaram,
Mesmo não sendo grandes clássicos.
Talvez os fatos se revelaram
Como rotos anátemas arcaicos. 
Crer nos cortejos que se avolumam
Nos deixa embriagados.
Já que filaúcias se consolidam,
Estariam todos os grandes errados?

A lua sempre será crua... 
E ambas palavras sempre vão rimar.
É como a sanidade na falua
Que à deriva há de ficar.
Não incomoda a luz da lua...
Apenas inquieta o peito ardente.
Se a vida tem se exibido nua
Quem se importa com quem expõe a mente?

De amor e fraqueza me infesto...
E os anátemas são mais guerreiros.
Aniquila-nos como demônio incauto.
Cega-nos como os nevoeiros.
São duas vidas de encanto
Cruzando com as impossibilidades.
Que beleza há no olhar em pranto
Vendo fugir as felicidades?

Ervália, 08/03/2013

Cristiano Durães

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Digavando devagar

Um quarto de hora
No mesmo quarto de outrora
É fulgaz como a aurora
E lento como quem chora.
Existencialmente volátil,
A água gelada é uma delícia.
Rude, fétido e sem sentido,
O cigarro é ainda mais delicioso.
Um minuto de silêncio 
Pra pensar na lei da inércia.
Um sentimento em movimento
Tende a permanecer em movimento.
Tanto faz...
A pólvora coloriu de rosa
A caixinha com a qual faço meu cinzeiro!

Viçosa, 03/04/2013

Cristiano Durães

Quartinho da psicopatia entediante

Pisca o vagalume.
Ninguém sa o que ele faz aqui.
Um quarto vazio e sujo
É mais completo que um coração.
Informações soltas,
E já são quase dez e meia.
Em tudo que é sub-entendido
Encontra-se o sentido que se quer.
Poupo-lhes do incômodo,
Pois já são dez e meia
Em uma manhã tão tediosa.

Viçosa, 03/04/2013

Cristiano Durães

Coração descadeado

Numa quarta-feira com cinzas
Anseios cinzentos
Despertam a sanidade ranzinza.

São dores quietas n'alva.
Não são sentidas ou sagradas;
São apenas covas que o peito cava.

Se eu ousasse revelar antes?
Teria no sorriso algo radiante?
Teria a manhã forças relevantes?

Se no enlevo da solidão cantasse?
Terias o peito aberto com espinho?
Deixarias que o coração- livre- pensasse?

São horas de uma manhã
Que não é sacra nem altiva,
Já que seu luzir não é louçã.

Absurdos e turbilhões de argumentos
Mostram-nos que tudo
São simples tropeços dos momentos.

Ante nada que amo sou esperto.
Me diz:
Por que meu coração não pode ser secreto?

Viçosa, 03/04/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 2 de abril de 2013

Subjetivo

Entre adjetivos e subjetivos,
Não damos espaço aos pronomes.
Por que esconder aquilo
Que já foi descoberto?
São estratégias das flores
E dos olhos de felinos
E não é do meu feitio
Ser peixe palhaço.
Quero queimar-me em tal anêmona
A qual não posso dizer o nome...

Viçosa, 02/04/2013

Cristiano Durães

sexta-feira, 22 de março de 2013

Na peneira

A rota da gota de chuva-
Perdida no vento-
Faz uma curva
Entre o ar poento
E a quentura do alento.
Luva de borracha
Na mão de quem trabalha
E por vezes não acha
Que confecciona uma mortalha;
Se cega e se estraçalha.
A sanidade do amante
Que sem sorte não ama,
Inda que se levante
Mais cedo da cama
Pra ver se assim se recama.
Rolam as cabeças ornadas
Com o sangue que o povo derrama.
Que nasçam ardentes feridas
No peito dúbio de quem clama
Por verdades de pura infâmia!

Ervália,  20/03/2013

Cristiano Durães 

Anexando

Solta a chuva, guarda-chuva!
Não é tempo de dar tempo
E fazer a curva que se curva
Ante a realeza que não é real!

Penso e minto ao pensamento
Que socorre o que só corre
Das cinzas do incenso cinzento
Provindas da flora que aflora.

No bar o ato barato
Que inebria o que inibia
A força que nos força
A queimar as matas que matamos.

Tudo para aquecer o que quer ser
A trava que nos entrava,
Crendo em crer que um fio de frio
É a realidade da realeza.

Ervália, 20/03/2013

Cristiano Durães

Uma saudade cativa; uma cegueira viva

A madrugada se consolida.
Madrugando adormecida
A cegueira faz-me ser
Tudo o que foge do dever. 

Não me force à escuridão
Rimando cego com coração...
Seja pra onde for,
Não rime cegueira com dor...

Salve a saudade
Que a sanidade retrocede.
Eclipse total enxova
Na umidez da fria cova.

Chegando onde se quer chegar,
Busca-me no meio do mar
Onde o desejo se afogou;
Onde você me deixou. 

Ervália, 21/03/2012
 

Cristiano Durães 


sexta-feira, 15 de março de 2013

Ciclo de treva e luz


É noite em tantas existências...
Tantos sorrisos forçados
Tantas dores; tantas ardências
No viver desses desesperados!
E quantas lágrimas deixaste cair?
Quantas vezes perguntaste ao devir
Se faltava muito pra se extinguir o mar?

Tal mar de plantas negras à humanidade
Vive sorrindo e mostrando-se diverso.
Não ostenta apenas uma flor de vaidade.
Nele se encontra todo tipo de raiz do universo.
Cada folha é um anátema
Que a escuridão teima em ocultar.
Em cada espinho vê-se a queima
De cada virtude distante do olhar.

São margaridas negras emanando incerteza
E damas da noite embalsamando a morte.
São rosas negras de amor sem destreza
E apenas murchos trevos de má sorte.
Tudo é treva nessas praias,
E o vento voa batendo a porta.
Ao som do uivo de tais ventos (turvas vaias)
Dorme o poeta que não se importa.

Dorme na imensidão de tal mar.
Em suas ondas de negras pétalas vaga a falua.
Dorme sem medo de naufragar,
Crendo que o mar tenha a languidez da lua.
Desperta quando um espinho de rosa
Encrava-se em seu peito viril e amante.
Vê que a cor do sangue é honrosa
Quando essa cora sua pele trepidante.

A rosa é negra como a noite
Que emana trevos de má sorte.
O espinho é seco e é o açoite
Que fere o desdém ante a morte.
Toda rosa deveria ser escura,
Já que o que representa não é singelo.
Todo espinho deveria ter mais verdura
Já que suga a vivacidade do elo.

O poeta vê que no fundo celeste
Um luzir estonteante se enaltece.
Não crê que o criador o teste;
Vê que o nascer do sol já acontece.
A aurora é o anjo de Deus
A desmanchar as filaúcias inglórias.
Por ela encantam-se o adeus,
A mente errante e as escórias.

O poeta se encanta com o eflúvio do albor,
Deixando de lado aquilo que deveria ver.
Esquece-se do cigarro e diz sem dor:
“Contemplar o belo é o meu dever!”
Turvas pétalas cinzentas em seu rosto batendo...
Voam ao ermo no vento que regela
Aquele que via o perecer engrandecendo
E agora contempla a aurora tão bela.

Não há negrume a interrompê-lo.
Há apenas algo como o anoitecer.
Com rósea pétala em seu cabelo,
Ele não se preocupa sem perceber.
Seus olhos têm a cor do inferno
E em seus lábios guarda belos cantos.
Quem diria que o sol- tão terno-
Poderia dar-lhe tantos encantos?

Pisa na treva que tinha
O mar de ardor; o imponente.
No fundo, serena modinha
Seria algo interessante.
É o sol em seu reinado de açoite!
Já deixou de ser tão frágil albor!
Colore tudo que era negro ontem a noite;
Revelando alva paz e rubro amor!

Ervália, 12/03/2013

Cristiano Durães

Ciclo de treva e luz: Poetando e explicando



“É noite em tantas existências”, e, quando se trata do interior das almas, isso nos remete a dois eflúvios: O adormecer e o anátema. Ambos mórbidos e silentes, vivem nos deixando em dúvidas atrozes apenas estando a vagar por nossas cabeças e só podem ser encontrados nos olhos.
                Na noite tudo é negro. Se não o é, é iluminado por um luzir tão mórbido quanto a treva. As flores mais cheias de cor (dessas que ornam qualquer jardim); as ramas mais vistosas e cheias de vivacidade; os olhos mais verdes (desses que parecem ser duas esmeraldas a nos vigiar)... Tudo! Tudo se parece com o fundo celeste noturno que nos cobre. As cores desaparecem, a paz trepida, o amor enlanguesce, a lágrima é mais dorida e tudo isso só é como é por ser noite.
                Um homem à deriva num diferenciado mar durante a noite (não digo que seja um homem qualquer, a menos que seja qualquer sonhador ou qualquer poeta). Adormecido nesse mar –um mar de filaúcias e detalhes- tudo o que tem é a embarcação onde se encontra. Uma embarcação fria, sobretudo, mister. Tinha a palavra “poesia” gravada na lateral direita.
                Não é o mar, com suas ondas tempestuosas e ferozes, arrebentando-se nas bordas da embarcação à deriva que rege o destino do poeta e sim a própria falua. Ela dá à mente do desesperado emoções arrebatadoras e cruéis e também sensações de calmaria ante à tormenta. Aniquila a razão do homem e constitui a lei absoluta na psique de tal sonhador.
                O negrume do mar (que são os anátemas avolumados) é vivo, como as plantas citadas anteriormente. Isso até que a estrela-mor pare de iluminá-lo, dando a ele um tom fúnebre; mórbido... Não é plausível crer que uma rosa vermelha- simbolizando o amor- possa recamar um coração sendo a cor de suas pétalas ofuscadas pelas trevas.
                Nós adormecemos na serenidade do balanço das ondas de anátemas. Desses nos esquecemos. Só nos lembramos quando qualquer espinho nos penetra fundo na pele, rasgando-nos e fazendo-nos com que olhemos a imensidão desse negro mar. No primeiro momento, pranteamos e esperamos que o mar tenha um fim; que uma praia segura, morna e clara nos espera ansiosamente. Nada fazemos, além do que não devíamos fazer.
                Sem nos distanciar-nos do interior das almas, falemos de aurora. Ah! Como é bela! É pacificadora e ofuscante, inda quando ainda é simples albor; simples silhueta de doirada luz no horizonte eloqüente. Revela-nos tudo aquilo que a noite insiste em ocultar: As cores, a vida, as soluções... Tudo aquilo que nos aquieta as almas.
                Amanhecendo. O poeta se perde no fascínio pela luz, após tanta escuridão em seu olhar. Contempla  o sol alucinado, não ocupando-se com os anátemas. Não nota que tudo ao seu redor ganha vida e cor. Jamais há de notar; seus olhos são enfeitiçados pelo devaneio vaporoso que é o nascer do dia. Necessita da beleza da luz, mas não repara no que ela proporciona.
                 O dia é tedioso e nele não há tempo  de divagar nesses delírios coloridos. O que se sabe é que quando as margaridas alvas começam a ficar cinzentas; quando o sol vai se afogar em seus próprios anátemas, deixando-nos com os nossos, o poeta desperta novamente. Desperta para notar que “é o fim”. Desperta para chorar as suas derrotas que, durante o dia, não notou que eram empates e até vitórias.
                Tudo é treva novamente... Se queres saber o que acontece após o despertar do poeta, releia tudo de novo. Esse é o ciclo do ID poético.

Ervália, 12/03/2013

Cristiano Durães

quinta-feira, 7 de março de 2013

Poema do amor trepidante

Meu Deus! Quando cantam
Os demônios do coração;
Quando os eflúvios se encantam
E a sanidade insiste em dizer "não"!

Quando a amada se mostra distante
Desvanescendo os sonhos em divinal sono;
Quando é longo o instante
Em que o peito revela-se insano!
 
Quisera eu que os lábios se tocassem,
Selando o desejo que pragueja a realidade!
Quisera eu que as mãos se fechassem
Com certa ardência e lânguida vaidade!

E tu? Desejaste se perder
No ebrioso afã do amor vaporoso
Fazendo-se crer
Que meu estro é honroso?

E tu? Por que não deixas
A vida mostrar-lhe que a lua que a observa
Deixa-nos sempre à mercê das endeixas
E do veneno de estonteante erva?

E quanto a mim? Deveria crer
Que a erva venenosa que cultivo
É simples amor a me deter,
Sendo esse tão nobre e altivo?

E quanto a mim?
Por que nao aceitas os amores meus,
Tornando assim
Os meus anseios todos teus?

Ervália, 05/03/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 5 de março de 2013

Romeu e Julieta... ?

I - A METÁFORA   

"Amaste um instante que foi tua vida como Julieta e como Romeu e não tiveste a conversa ao luar no jardim do Capuleto!"
          ÁLVARES DE AZEVEDO


Ai! Romeu! Louco Romeu!
Acima do céu, amante.
Por que não contentas com a sina que lhe deu
A vida tão vigorante?

Ai! Romeu! Roto Romeu!
Por que não abandonas o Capuleto,
Já que sabes que o amor que é teu
É tão incerto e obsoleto?

Ai! Julieta! Bela Julieta!
Acima do céu, mister.
Por que tua mente aproveita
Do coração de quem lhe quer? 

Ai! Julieta! Langue Julieta!
Por que insistes em ressaltar
Que o que mais desorienta
É o eflúvio do teu olhar?

São chamas de amor tão tórrido
Nesse meu peito ensanguentado!
As rimas pobres são chamadas
De mero estro agoniado!

II - EU                      
                                "Sou te pálido amante vaporoso!
                                  Sou teu Romeu; Teu lânguido poeta!"
                                                       CASTRO ALVES
                        
Divino sono é o teu, amada.
Não há serpente a assustar-lhe.
Meu cantar não a enfada, 
Inda que o medo o retalhe.

E se no negrume da noite
Tua voz é sempre mais doce,
Seria na noite que a rara sorte
Se glorifica; se enaltece?

Tenha dó, pálida amante!
Não apunhale o coração
Com teu olhar tão distante
Que emana a realeza de um leão!

E se cada plano que fiz contigo 
Tornar-se realidade...
Meu Deus! Já tenho meu abrigo!
Encontrei minha felicidade!

Ai! Agora me ouves! Sonho meu!
E o amor que me testa
Simplesmente quer ser teu.
Um amar que me infesta...

Ai! De tantos atos medonhos,
O mais demente foi o meu:
Fiz de ti a Julieta dos meus sonhos;
Querida! Me deixa ser Romeu!

Ervália, 04/03/2013

Cristiano Durães