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sexta-feira, 15 de março de 2013

Ciclo de treva e luz


É noite em tantas existências...
Tantos sorrisos forçados
Tantas dores; tantas ardências
No viver desses desesperados!
E quantas lágrimas deixaste cair?
Quantas vezes perguntaste ao devir
Se faltava muito pra se extinguir o mar?

Tal mar de plantas negras à humanidade
Vive sorrindo e mostrando-se diverso.
Não ostenta apenas uma flor de vaidade.
Nele se encontra todo tipo de raiz do universo.
Cada folha é um anátema
Que a escuridão teima em ocultar.
Em cada espinho vê-se a queima
De cada virtude distante do olhar.

São margaridas negras emanando incerteza
E damas da noite embalsamando a morte.
São rosas negras de amor sem destreza
E apenas murchos trevos de má sorte.
Tudo é treva nessas praias,
E o vento voa batendo a porta.
Ao som do uivo de tais ventos (turvas vaias)
Dorme o poeta que não se importa.

Dorme na imensidão de tal mar.
Em suas ondas de negras pétalas vaga a falua.
Dorme sem medo de naufragar,
Crendo que o mar tenha a languidez da lua.
Desperta quando um espinho de rosa
Encrava-se em seu peito viril e amante.
Vê que a cor do sangue é honrosa
Quando essa cora sua pele trepidante.

A rosa é negra como a noite
Que emana trevos de má sorte.
O espinho é seco e é o açoite
Que fere o desdém ante a morte.
Toda rosa deveria ser escura,
Já que o que representa não é singelo.
Todo espinho deveria ter mais verdura
Já que suga a vivacidade do elo.

O poeta vê que no fundo celeste
Um luzir estonteante se enaltece.
Não crê que o criador o teste;
Vê que o nascer do sol já acontece.
A aurora é o anjo de Deus
A desmanchar as filaúcias inglórias.
Por ela encantam-se o adeus,
A mente errante e as escórias.

O poeta se encanta com o eflúvio do albor,
Deixando de lado aquilo que deveria ver.
Esquece-se do cigarro e diz sem dor:
“Contemplar o belo é o meu dever!”
Turvas pétalas cinzentas em seu rosto batendo...
Voam ao ermo no vento que regela
Aquele que via o perecer engrandecendo
E agora contempla a aurora tão bela.

Não há negrume a interrompê-lo.
Há apenas algo como o anoitecer.
Com rósea pétala em seu cabelo,
Ele não se preocupa sem perceber.
Seus olhos têm a cor do inferno
E em seus lábios guarda belos cantos.
Quem diria que o sol- tão terno-
Poderia dar-lhe tantos encantos?

Pisa na treva que tinha
O mar de ardor; o imponente.
No fundo, serena modinha
Seria algo interessante.
É o sol em seu reinado de açoite!
Já deixou de ser tão frágil albor!
Colore tudo que era negro ontem a noite;
Revelando alva paz e rubro amor!

Ervália, 12/03/2013

Cristiano Durães

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