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terça-feira, 23 de abril de 2013

Presságio dos seguintes ciclos

Que eu seja apenas esteio
A mitigar os cantos mais tórridos;
A queimar-lhe o seio
Cismando com esses devaneios ávidos.

Que esse lenir não seja ao léu.
Adamítico é esse idílio torvo
Que estilhaça-nos com o anil do céu,
Difamando-nos ante o alvo e o corvo.

Amarra-me com um trancelim
Nesse teu leito que matizo agora.
Implacável e árduo será assim
O ato de não rever a aurora.

Já que partiste no zênite,
Queima-me no regaço de gozo
A decepar os anjos de cada instante
Num devaneio pútrido e ignominioso.

Talvez no repente mais singelo
Coroaremos o negrume dos nossos leitos
Com o ideal noctívago do belo
E com o ilídio que arde nos nossos feitos.

Ervália, 23/04/2013

Cristiano Durães

Num escuro quarto de hora

Prodigiosa é a cura
Que se mostra imagística.
Tão divina quanto impura,
Resvala-se na mão mística
Do marcado verdugo
Mais sábio que Victor Hugo.

Proeminente epopéia
É o envoltóio da solitude
Que cobre a platéia
E assassina a juventude.
Tênue- arruina as honras pretéritas
Das mais eloquentes "veritas"

E, na verdade,
Continua rude
A palavra "saudade"...

Ervália, 22/04/2013

Cristiano Durães

Analisando aa situação interna

E, de repente,
A manhã mente
Revelando a silhueta das matas;
Berrando nas vicissitudes mais castas.
Ela diz que é salvadora...
Diz que o luzir que emana é o que doira.

E, de imediato,
É silente o ato.
Quando o leito é poento
É estrondoso o arrependimento.

Se menor for o sorriso,
"Si menor" entoa tão liso!
Os violinos de Bach 
São punhais no peito de quem desaba
Ao saber que a rosa murchou.
Ee já que anônimo eu não sou,
Não me pergunte meu nome.
Perguntar apenas some
Com o impulso dado pela morte
E pela dor de um profundo corte.

Ervália, 21/04/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 16 de abril de 2013

Na tua lápide...

Sabe, amor...
Os céus também choraram;
Os pássaros não cantaram
Só porque tuas mãos se descoraram.
Escrever é tão complicado
Se quando abro meu caderno
Vejo teu desenho ali gravado!
Se teus anseios a umedeceram...
Se teu nome permanece junto ao meu...
Se já não brilhas como o camafeu...

Sabe, amor...
Sei que sabes
Do quanto és mister.
Promessas sempre serão promessas;
Estejas onde estiver.
Não há razão numa pedra fria.
É turva a languidez dela
Quando emana cinzenta nostalgia.
E eu acho tão funéreo
Esse teu leito florido;
Esse negrume coroado
Com tantas lágrimas orvalhado...

Sabe, amor...
Tanta chuva me molhou
Nessa tarde preta e branca!
Tanto pranto na face se escoou...
Memórias já perdidas
Retornam devagar
Ao vazio de um lugar
Que deu tanta cor-
Em meio a tanto ardor-
Para aquilo que chamávamos de amor.

Sabe, amor...
Não pude tocar-lhe a fronte...
A frieza da tua tez
Regelou aquele instante.
Esse vazio que corrói
Bem mais que um amor distante
Enaltece-se a cada instante,
Querendo se apossar.

Prometendo jamais deixar
Alguma rosa alva murchar;
Hei de te falar quando chegar;
Teu leito tristonho sempre hei de recamar.

Sabe, amor...
Eu poderia perguntar-lhe
Se devias partir assim;
Crendo que a vida é mero detalhe...
Detalhe que a unia a mim...

Ervália, 11/04/2013

Cristiano Durães

Soneto do desconforto

Tão leviana é a mão que me toca 
Que desejo-a com  virilidade
Que o doirado do sol no vil céu retoca
A tão leviana cor da vaidade.

É nobre o afã letal que me assola,
E, seu ansiar se nega ante ao dever.
A petulância no coração cola,
Incomodando-me e fazendo-me ver...

Ver que não é volátil a noite escura;
Ver que não cessa o bombardeio voraz;
Ver que o meu peito se enche de fissura.

Fissurado por qualquer vida sagaz
Que- me enaltecendo- o meu afã procura,
Dando-lhe a cura pra chaga mais tenaz.

Ervália, 10/04/2013

Cristiano Durães

Feito de plástico

Há dias de sol diminuto
Nos quais o pranto é absoluto
E as rosas dos ventos
Não são rosas; tem aspectos cinzentos.
Há dias nos quais o "Lá"
É apenas um lugar com nome de acorde...
Acorde menor a entoar lá-
Onde o frio não nos acode.

Há dias de desejos sem ar
Suplicando pra poderem se corar.
Há beijos de amor verdadeiro
Que não existem nem no nevoeiro.
Há dias de sonhos em que o fim
Inicia-se com o fim de um ciclo.
E, embalde a bela lua de marfim,
Me jogo fora e depois me reciclo.

Reciclando-me eu anseio
Sem inspirar a musa ovante
Que delira o nível seio
E o sonho do torpe amante.
É um dia com medo de amar
Sem sentir o belo no ar,
Mesmo ante o infinito límpido e anil.
Como pode a vida ser tão vil?

Ervália, 10/04/2013

Cristiano Durães

Versos íntimos

Coroemos as noites escuras
Com o langor do céu.
Façam-me cobrir esculturas 
Com o mais negro véu.
E em dias de sóis e culturas
Amemos o calor tão tórrido.
Nas gotas das turvas chuvas
Deixemos o devaneio mais sórdido. 

O peito cavalga tonante
Na estrada da poesia.
É uma estrada que num instante
Nos enche de nostalgia.
Ora florida e rescendente;
Ora inerte e sem vida.
Nela vaga- tão ardente-
O anjo com sua ferida. 

De amor e fraqueza me infesto.
São insídias com atroz eflúvio.
Crer é como raio infausto
Que antecipa o dilúvio.
E quando chega a tormenta do pranto
Me resta amar o vinho e o fumo.
Que importa se o falso encanto
Em mero capricho eu resumo?

Talvez os versos me tomaram,
Mesmo não sendo grandes clássicos.
Talvez os fatos se revelaram
Como rotos anátemas arcaicos. 
Crer nos cortejos que se avolumam
Nos deixa embriagados.
Já que filaúcias se consolidam,
Estariam todos os grandes errados?

A lua sempre será crua... 
E ambas palavras sempre vão rimar.
É como a sanidade na falua
Que à deriva há de ficar.
Não incomoda a luz da lua...
Apenas inquieta o peito ardente.
Se a vida tem se exibido nua
Quem se importa com quem expõe a mente?

De amor e fraqueza me infesto...
E os anátemas são mais guerreiros.
Aniquila-nos como demônio incauto.
Cega-nos como os nevoeiros.
São duas vidas de encanto
Cruzando com as impossibilidades.
Que beleza há no olhar em pranto
Vendo fugir as felicidades?

Ervália, 08/03/2013

Cristiano Durães

quarta-feira, 3 de abril de 2013

Digavando devagar

Um quarto de hora
No mesmo quarto de outrora
É fulgaz como a aurora
E lento como quem chora.
Existencialmente volátil,
A água gelada é uma delícia.
Rude, fétido e sem sentido,
O cigarro é ainda mais delicioso.
Um minuto de silêncio 
Pra pensar na lei da inércia.
Um sentimento em movimento
Tende a permanecer em movimento.
Tanto faz...
A pólvora coloriu de rosa
A caixinha com a qual faço meu cinzeiro!

Viçosa, 03/04/2013

Cristiano Durães

Quartinho da psicopatia entediante

Pisca o vagalume.
Ninguém sa o que ele faz aqui.
Um quarto vazio e sujo
É mais completo que um coração.
Informações soltas,
E já são quase dez e meia.
Em tudo que é sub-entendido
Encontra-se o sentido que se quer.
Poupo-lhes do incômodo,
Pois já são dez e meia
Em uma manhã tão tediosa.

Viçosa, 03/04/2013

Cristiano Durães

Coração descadeado

Numa quarta-feira com cinzas
Anseios cinzentos
Despertam a sanidade ranzinza.

São dores quietas n'alva.
Não são sentidas ou sagradas;
São apenas covas que o peito cava.

Se eu ousasse revelar antes?
Teria no sorriso algo radiante?
Teria a manhã forças relevantes?

Se no enlevo da solidão cantasse?
Terias o peito aberto com espinho?
Deixarias que o coração- livre- pensasse?

São horas de uma manhã
Que não é sacra nem altiva,
Já que seu luzir não é louçã.

Absurdos e turbilhões de argumentos
Mostram-nos que tudo
São simples tropeços dos momentos.

Ante nada que amo sou esperto.
Me diz:
Por que meu coração não pode ser secreto?

Viçosa, 03/04/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 2 de abril de 2013

Subjetivo

Entre adjetivos e subjetivos,
Não damos espaço aos pronomes.
Por que esconder aquilo
Que já foi descoberto?
São estratégias das flores
E dos olhos de felinos
E não é do meu feitio
Ser peixe palhaço.
Quero queimar-me em tal anêmona
A qual não posso dizer o nome...

Viçosa, 02/04/2013

Cristiano Durães