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segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

De amor para amante

Sou fogo ardente
E espinho pontiagudo.
Mesmo que o sonho me atente
Eu- com escárnio- o acudo.

Sou rastro de sangue
E a mentira que emana a prece.
O devaneio mais langue
Meu existir enaltece.

Sou mistério de noite casta
E fio de espada amolado.
E mesmo quando o perecer se afasta,
Por ele eu sou amado.

Sou raio de sol alado
E lágrima em noite coberta por mortalha.
Até quando a bátega brame seu rugido,
Meu sussurro a razão estraçalha.

Não crivo as vidas
De verdades tão malfadadas.
E se eu laurear as vossas amadas,
Acreditem no júbilo das folhas amareladas.

Não sou demônio sedento
Por lágrimas salgadas e doridas.
Mas se pensam que sou anjo incauto,
Cuidado! Recamem mais as vossas vidas!

Ervália, 25/02/2013

Cristiano Durães

Apenas sendo...

És um anjo...
Em sua forma mais rústica.
Estampando um sorriso que purifica
A volúpia que teu olhar acende.

És o mar...
E se perde na imensidão da beleza. 
Vem se quebrando nos penedos mais gélidos...
Ora serena; ora sem destreza. 

És o sol...
Em seu brilho divinal na manhã.
Ilumina os corações alheios
E o teu, emana ardência e afã. 

És a lua...
Ornando minhas noites nas janelas
A pele pálida e morna
Condiz com o brilho que revelas.

És como flores...
Botão de rosa orvalhado.
Esperando se desabrochar em linda flor;
E para isso já não precisa de mais nada.

És sonho...
Dilacerando qualquer pesadelo;
Engrandecendo cada presságio;
Tornando o frio da noite ainda mais belo. 

És calor...
E tens aroma de verão.
Quente, repente e ardente.
Dias como os teus jamais virão.

És frio...
E dala fundo no peito estremecido.
O toque é gélido quando choras...
É como o mármore da lápide envelhecido.

És tudo e não és nada.
E o teu olhar é o que fito na visão.
És ventura; és alada...
És o desejo que pulsa no coração.

Ervália, 24/02/2013

Cristiano Durães

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2013

Au veillée nocturne

Quando a noite à janela,
O ar emana nostalgia que anela
O passado eloquente
Que vem sorrateiro como serpente...

Os versos sõ mais infaustos!
Perfuram-nos como a imensidão dos pastos
A sustentar as vidas
Das criações desinibidas.

Não vejo aqui nenhuma filosofia.
É apenas restos do estro que partia,
Engrandecendo o ódio do pobre
Que a soberba do rico descobre.

As Três Marias são tão singelas!
É quase como os cantos que exalas!
Falo de ti, incessante noite
Que apunhala-nos vigorante.

O novo parece sempre mais belo
Do que tudo que é velho que revelo.
Mas não se assute, coração!
Hei de sempre dizer não!

E quando a noite, no ardor do leito,
Cada medo que respeito 
Desmancha-se com o som que derrama
O violão na minha cama.

Se Vênus está sempre a me sorrir,
Onde está  volúpia do devir
Que me afoga em divinal pensamento
Após rir do passado poento?

E se a lua é tão crua,
Onde está a falua
Que navega no mar de rimas
Banhadas no amor que recamas?

Mas se o negrume do fundo celeste
Em digladir conosco insite,
Por que olhamos para as estrelas
A mostrarem-se tão incrédulas?

São apenas insídias da noite.
Que o sol doirado as mate.
Não há mais tempo para a treva;
Não nos revela mais nad como revelava.

Ervália, 21/02/2013

Cristiano Durães 

Na Lápide

Apens algo que toca
O Confortável afã da alma.
Não há dor...
Confie... Você está seguro...
Mas se o sentimento
Ousar privar-lhe do ricto,
Apenas ajoelhe-se
Ante à harmonia da melodia
Que emana a noite.
A treva é a companheira
Dos teus pesadelos mais queridos.
Confie... Você está seguro...
Convide-me para embriagar-me 
Com apenas uma taça
Desse frígido fluído
Que escorre na tua vida.
Confie... Você está seguro...

Não se espante.
O mar não é tão profundo,
E os teus braços - em estafa-
Hão de levá-lo à praia.
O beijar mortífero da loucura
Estala junto ao "tac" do relógio,
E você pode beijá-la.
Confie... Você está seguro...
É sangue que desce
Nessas janelas langues e escuras.
É liberdade que escorre
Nessa chaga ardente no peito.
Confie... Você está seguro...

Adormecendo...

É divinal o sonho que tens;
É sombrio o modo como deitas.
Ah não... Você não está seguro...

Ervália, 20/02/2013

Cristiano Durães

terça-feira, 19 de fevereiro de 2013

Um poema ruim; Uma saudade cativa...

   Se o sofredor não chegou a ser um regenerado, pode- pelo menos- deixar de ser um revoltado e viver como um conformado.

Estou lhe esperando,
Como se estivesse a caminho.
Tenho um cigarro entre os lábios...
Talvez assim o desejo se apague também.

Face na face...
E os teus olhos permancem fechados.
Tantos olhos são testemunhas
De algo que parece não existir!

Difícil criar um sonho
E mantê-lo vivo apenas com palavras.
Tudo é cansaço, medo e dúvida...
E isso apunhala o coração de qualquer amante.

A noite me faz sucumbir
Ante a um turbilhão de pensamentos.
Santa é a lua que se esconde
Detrás dessas nuvens traiçoeiras.

São seis e quinze da manhã.
Com certeza os teus olhares
Contemplam o brilho do sol.
Tens na face um sorriso infausto.

És bela... E eu tinha me esquecido disso.
 A simplicidade dos versos
Só mostram o quão ferozes
Tem sido as minhas interrogações.

A vontade de escrever
Foi -se com a chuva que,
Já acalmada pelas divindades,
Encheu de cor essa manhã tão fria.

Viçosa,  13/11/2012

Cristiano Durães

O entendedor do desentendimento

Não! Não em questione!
Tenho apenas uma mente
Que dorme criando 
E desperta concretizando.
Os sonhos mais sem graça
Ela trespassa e ameaça.
Não é desgraça
Se com tais sonhos a vida se entrelaça.

 A vida
É quem cora, descora e ancora
No mar de cores que decora
O momento que a escória chora.
E nesse desconexo
Eu- sem algum nexo-
Me anexo.

Os desejos
São margarita e margaridas

Digladiando nesse mar de idas
Que se quebra com as partidas.
São doces os vinhos
E os anátemas levinhos
Que odeiam diminutivos
Mas diminuem-nos altivos.

A cor do amor
É rosa e honrosa.
O amor é ardor, 
Apesar da falta de ar
E da sobra de dor.
Não me importa se o peito se importa
Com o despeito de quem bate a porta.

Vá-te, vate!
Curiosidade a poesia nos mete!
A rima nos remete
À regra que nos regra
A amar a desregra.

Dá-lhe, dália!
Cora essa vida
Que, porventura,
Não se aventura
Pra alcançar a ventura!

Ervália, 19/02/2013

Cristiano Durães

Falando nela...

Fale! Não se cale...
Tuas palavras já afastam a solidão!
Que o dulçor a tua voz exale,
Pois teu falar ja apunhala o coração!

Venha! Quero ouvir-te
Murmurando algum amor.
Que teu peito jamais seja inerte,
E que o amor se encha de calor! 

Olha... que o teu olhar
Já perfura a incerteza!
Que ele eu possa fitar!
E que a pálpebra não atrapalhe a beleza!

Cante! Não se importe!
Tuas estrelas já derramam
Ardência, fidelidade e sorte.
Ah! Os sentimentos me apunhalam!

Ervália, 15/05/2011

 

quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Confortavelmente Entorpecido

A fumaça do cigarro
Revela os raios impetuosos
Do sol que trespassa
Os galhos orvalhados e tortuosos
Da dama da noite que tudo recende.

A vigília nos torna distantes.
Por ela 
Confundem-se os instantes...
As insídias da escuridão das noites
Misturam-se com a frieza das manhãs,
Nas quais os lampejos mais louçãs
Perdem o brilho de não terem acontecido.
O sol mostra-se desinibido.

A ferocidade do enleio n'alva
É a mesma ante à calmaria da tormenta;
Envenenada maçã que a vida arrancava
É o amor que nos afugenta.
A tez- em ferino desejo-
Pragueja a distância do que a acalenta.
Os lábios- sedentos por um beijo-
Tem a lembrança do derradeiro beijo que atormenta.

Sonhos dão lugar
Aos encantos mais sem graça,
Aos delírios de um amar
Que não contenta-se com a desgraça.
Mas a manhã vem a me lembrar
Que não há nada impeça
Que o prazer da poesia a se sagrar
Me conforte e me entorpeça!

 http://www.youtube.com/watch?v=Bpzxf_flm8M

Ervália, 14/02/2013

Cristiano Durães

"contrário Ao"

O amor que cultivo agora
É o eco do amor de outrora
Do qual o gritar que me apavora
Emana antes da aurora.

E o deleite do cigarro que fumo
É a sina de Deus que amo.
Nela os medos eu derramo
E praguejo a rima pobre que exclamo.

Não importa se a poesia
É mais bela sob a luz que exauria
Da vela que derretia
Mantendo acesa a chama que nutria.

Não importa se o amor que cultivo
Não é por um anjo altivo,
E sim por um medo que louvo.
Enquanto encontro-me no café que fervo.

Minorando-se o desejo ir
Os versos hão de nutrir o meu devir
Com flores serenas a me sorrir,
Nem que seja para me fazer partir.

E que importa se os anseios
Não tem condições ou meios
De afastar de todos os eflúvios
A mixórdia dos enleios?

Ervália, 14/02/2013

Cristiano Durães

Despedir do Adeus?

Devaneios inglórios avolumam-se...
Pedem perdão à inocência
E me lembram que é hora de crescer
Ou morrer pequeno...

Quisera eu que as epopéias
Não tornassem a rima tão mister!
Quisera eu que o eco dos acordes diminutos
Não preenchecem a dor do peito em prantos!

Era pra ser a decisão derradeira
Fugir com demasiada pressa
Para onde o mar me beije...
Para onde a lua me olhe...

Lá- onde dormem os grandes-
Não há perguntas por toda parte.
Lá reina a saudade
De tudo que deixo aqui.

Aqui- onde vivem os acalantos-
Não há modo fácil
De não pensar em dar adeus
Ás despedidas tão cruéis.

Dúvidas inglórias avolumam-se...
Pedem perdão ao desejo
E me lembram que é hora de amanhecer,
Pois o novo amanhece...*

* Citação de trecho de música de Renato Teixeira

Ervália, 14/02/2013

Cristiano Durães

segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Meio que pela metade

Meia noite...
Falta meio dia
Para o relógio bater meio dia...
Entre esses devaneios meio que inúteis
Eu- meio agoniado-
Reparo na vida meio que sem notar...
Reparo que ela está meio atrasada.
No meio em que eu vivo
Ela está meio desorientada.

E eu sou metade:
Metade do que eu deveria ser;
Metade do que eu poderia ser;
Metade do que eu gostaria de ser...
Sou metade e não sei dizer
O que é a outra metade.

Não importa se eu digo "não".
O "não" não acrescenta;
Só deixa de acrescentar.
Domino as noites mais ferozes
Com poemas de negação.
Sonhar... Sonhar...
Vai vagando entre as mentes
De cada metade que se sente
Meio que perdida...

E já que o contexto
Está meio que pela metade,
Metade do que eu escrevi
É meio que sem nexo. 
Metade de quem aprecia
É meio que flutuante.
Metade de quem vos escreve
É meio que angustiante.
Metade do que mata
É meio que mister.
Metade do que embeleza
É meio que indecoroso.
E agora- pra finalizar-
Metade do que eu disser
É meio que pra você desconsiderar.

Ervália, 04/02/2013

Cristiano Durães

sábado, 2 de fevereiro de 2013

Preâmbulo ao retorno à filosofia poética

                                              "O fim da poesia é o belo"
                                                   ÁLVARES DE AZEVEDO

Permita-me dizer
Que a madrugada já se consolida
Arruinando qualquer sonho
Que eu poderia ter.
Não! Não me impeça!
Não tente fazer com que eu não me renda
Às trevas dessa noite límpida!

Nos dias:
Exalo realeza;
Deslizo com o vento;
Me encho de certeza,
Tal qual futuro poento.
Sou Don Juan...
Embalsamando todas as tranças
Apenas com o olhar.

Nas noites:
Encho-me de incerteza
Pereço ao som do vento
Exalo cantos sem destreza,
Tal qual passado sangrento.
Sou qualquer poeta
Amando apenas uma musa
Apenas por amar.

Vamos! Aproveite que já embala
A modinha espanhola!
Fale-me de amores quebrados
E de estrelas ocultas
Pelo brilho do luar!
O luar é tão belo...
Mas insiste em trespassar
Meu coração mimoso;
Insiste em instigá-lo.

Ah sim...
Não se esqueça de esquecer
Do dia que já morreu.
Lembre-se de me avisar
Se é mérito ou demérito
Escrever um belo poema.
É infame a dor no peito...
Não há donzela nem mancebo!
É estúpido crer em rosas!

Mas como é belo
Escupir num coração de pedra
O mais doce amor;
A mais serena poesia.
De víbora assassina-
Vomitando insultos ferozes-
A doce rouxinol em doce canto.
Ah! É belo!
E sou poeta...
Busco o belo...

Ervália, 02/02/2013

Cristiano Durães