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sexta-feira, 28 de dezembro de 2012

Soneto do Retorno

No fresco da viração tão plácida;
No vil rubicundo arrebol na praia
Esmorecida; bela ali cambaia
Tão lânguida entre a grama esverdeada.

Embalsamando vem as castas flores.
Resvalando as mãos com grande enlevo
Nas tranças que aos pútridos sonhos levo
Para bailar junto às vozes dos tenores.

Bela semi-preciosa camafeu!
É onde se talha a face da tão amada
Rosa mimosa que ao relento morreu.

Nos desmaios e gemidos de fada,
Entre as tão alvas rosas do himeneu, 
Uiva o escárnio pela dor cândida.

Ervália,  28/12/2012

Cristiano Durães

De volta ao coração das rimas

                             "E nos lábios derrama-se a lembrança
                              Do passado a sorrir nos prantos d'hoje!
                              Cobre-me o coração a vaga mansa
                              De uma saudade que suspira e foge!
                              E lembro às vezes o palor da vida
                              Do gélido cadáver do suicida."

                                             Álvares de Azevedo



Presente latente nostalgia.
Na fronte tão langue se embebia
Impetuosos versos desvairados
Tal qual insônia tão tonante
Derramando-se vigorante
Nos sonhos dos negrumes mais profundos.

Os charutos foram esquecidos
Assim como os vinhos rubicundos.
As auroras não se perderam
Nas chamas virtuosas
Das dores tortuosas
Que os amores viris criaram.


Alva lua dos amores! Delírios!

Doirado sol dos sangrentos martírios!
Orvalhadas flores no jardim
Perderam o brilho da poesia!
Modinha tão sagaz se euxauria
Nos eflúvios de langue festim!

Quantas noites em feroz devaneio;
Quantas vidas de tão tonante enleio
Nas filaúcias noturnas eu cantei?
Por Deus! Quantos vinhos madeira
Em falsa noite derradeira
Eu- tão embriagado e casto- degustei?

Nas noites no campo revelava
Meus sagrados segredos à relva.
Na imundície do chão dessas ruas
Deixei as gotas mais salgadas;
As vãs lágrimas mais doridas
Emanadas nas auroras mais cruas.

Os amores se fartavam;
Se abriam e lamentavam
Com as rosas do himeneu,
Tais quais Julieta tão serena
Recebeu numa noite vil e amena
De seu desvairado Romeu.

Vede? A poesia se extinguiu.
Arrebatou-se; se exauriu.
Desafinou-se a virtuosa lira
Que ornava o bailar da turva donzela.
Arrebentou-se a corda da viola
Que ouvia a espanhola que delira.

Pois que retornem os sonhos!
Os mais louçãs ou medonhos 
Nos quais a poesia adormece!
Que importa se a vil vida
Vive desinibida
Se na noite ela se enlanguece?

Ervália, 28/12/2012

Cristiano Durães

Amanhecendo-me

Noctivagando...
Entre tons e olhos valseando.
O silêncio ausente
Hoje parece mais silente.

A vida pede licença
E queima a inteiriça
Saudade do leito
Que jaz no peito.

Cigarros e mais cigarros
Sem vontade foram fumados.
As portas dos bares fechados
São apenas sorrisos escondidos.

Inteiriça mixórdia
Se perdendo na malevolência
Dos ébrios conscientes 
A gritar com o rastro dos dementes.

São apenas insídias da noite
Avolumando-se com a sorte.
Volto a rimar cansaço
Com tudo que faço.

Flácido desalento!
Fulminante e atento...
Entre o ímpeto agora inócuo
Ante tudo que fluo.

Minorando-se a dor do peito
A falta de amor e despeito
Se converte em velas prosopopéias
Presentes em lânguidas epopéias.

O último cigarro esse vai ser.
O sino diz que é hora de deter
A inerte, porém furiosa
Poesia melindrosa.

No morno da noite- aos bagaços-
Eu vou, mesmo que o dia me impeça,
"Me embriagar com versos
Até que a insônia me esqueça."*¹

*1 Adaptação de trecho da música "Cálice", de Chico Buarque de Holanda.

Ervália, 28/12/2012

Cristiano Durães

quinta-feira, 27 de dezembro de 2012

Vitrola Sozinha

    Sentei-me em uma cadeira desconfortável ouvindo Dire Straits e esperando a hora em que o vinil ia travar de novo. Sim... ele está arranhado.
    Pensei em vida. Ela também está arranhada. Travou nas mesmas rimas, nos mesmos tons e nas mesmas reações de sempre. Eu sou a vitrola, e a agulha já não aguenta mais tocar essa vida arranhada.
 
É um poema sem contexto;
Sem motivo algum...
Sem lógica, inspiração ou vontade.
Sem sorrisos, seriedade ou pranto.

Vem. Vamos partir.
Sonhos e mais sonhos virão
E as dores no coração
São quem vão sorrir.

"Felicidades superam infelicidades."
Ok, baby.
Eu concordo com você,
Mas, não venha me falar de maldades.

A janela aberta
Deixa os ventos mais inofensivos
Entrarem desinibidos
Fazendo bater a porta.

É um poema ruim.
Não consegui lapidar
Tudo aquilo que me vi pensar.
Por que tem que ser assim?


    Cale-se, Índio! Assim vai acordar o Túlio!

Solidão...

Ervália, 27/12/2012

terça-feira, 25 de dezembro de 2012

Nostalgia

Nostalgia. E de repente tudo muda sem nada mudar. Não sei se é só uma solidão inflamada ou um vazio de um sonho que dói por ate hoje não poder ter acontecido. Não, um sonho não... Talvez um forte desejo de se viver momentos comuns, vividos no cotidiano de todos, menos no seu. Sentir-se feliz como nunca antes por apenas pequenos momentos de afeto, demonstrações banais de carinho. Sim, não é nada demais, aquele mesmo feijão com arroz de sempre, mas que por instantes te faz sentir um vazio, que ate hoje não foi preenchido. Uma fome nunca saciada. Os mesmo vazios de antes, só que despertados em circunstâncias diferentes, com efeitos diferentes. Ora te faz sentir um vento gelado por dentro e quando se dá conta um sorriso bem escondido aparece; ora te afoga num mar de nostalgia. É isso, nostalgia. Sensações antigas mascaradas das mais diversas formas, descobertas no dia-a-dia de alguém que ainda não vivenciou instantes de felicidade saciada.
 Daniella Isadora 

domingo, 23 de dezembro de 2012

Insonimaníaco

São três e quarenta e sete da manhã. Estou deitado no chão do terraço e a lua continua mostrando apenas metade de sua face. Ora! Parem de me imaginar assim!
 A insônia começa a criar os seus filhos e eu me lembrei de ter ouvido falar de um poeta que já disse ser o poeta da loucura, mas que agora é apenas poesia doente. Um poeta que se sente encarcerado. Que tem um belo sorriso durante o dia e os olhos inchados e salgados durante a noite. Se perde entre sílabas, ventos e vidas.
     Ah! As vidas! Vidas, vidas e mais vidas! Vidas pensantes, errantes e estagnadas. O poeta se vê diante todas elas e nota que não se encaixa em nenhuma. Ele tem avós pensantes, amadas errantes e amigos estagnados. Ama a todos e seu coração o condena.
    Ah! Os corações! Corações, corações e mais corações! Corações sóbrios, amantes e pulsantes. O poeta sabe que o seu é uma mistura de  tudo isso. Ama a todos, mas dedica prantos à frieza do pulsante. É um coração gélido que não faz nada além de pulsar.
    "Existem perguntas.", ele sussurra para as estrelas, sabendo que essas são personagens do filme que o deixa com as maiores dúvidas. Ele precisa perguntar; precisa saber o porquê de estar deitado no chão gelado. Precisa saber o porquê de estar completando cinco dias em claro; em feroz vigília pelo dia, mesmo que o cansaço já o atordoe. Precisa lembrar de ter fé. Não só em deuses e coisas místicas, mas principalmente nele mesmo. Precisa saber o porquê disso também.
     Na realidade, tudo que escrevi é uma metáfora que diz que o poeta agora é cansado, amante e, sobretudo, criança. Sua intensidade é intensa e o que mais o incomoda é o fato de tudo isso estar incomodando-o. 
    
"Meu Deus! Mágoa ou fascínio pela mesma?"- ele se perguntou ao ler tudo que escrevi.

Ervália, 23/12/2012

Cristiano Durães

sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

Bêbado

Embriagado.
Talvez de sono;
Talvez de álcool.
Tudo e nada se encarando.

Irônico desdém assolando.
O sol já nasce estampando o céu
Com um tom alaranjado de tristeza
Que orna certeza e incerteza.

As dúvidas escorrem
Como o sangue na garganta.
Lento... perturbador...
Não sei... uma dose de uísque, por favor?

Não estou em condições de escrever. Minha mão não responde e minha caneta está falhando.
Boa noite.

Viçosa, 20/12/2012

Cristiano Durães

Falando nisso...

Bom falar do medo,
Já que ele está presente.
Se agonizando tão cedo
Ele é negro e claro; frio e quente.

Talvez conheça a beleza,
Já que ela está presente.
Mostrando-se com a certeza
De que um coração com ela se encante.

Ouvi você falando de idade...
Já que ela está presente
Em todos os olhares de ansiedade
De cada homem ou serpente.

Bom falar em tempo,
Já que ele está presente.
E a dor do tempo que antecipo
Se força a não estar ausente.

O passado vem passando ao meu lado.
Continua belo e perigoso.
O futuro se mostra mais incerto
e do ousado pranto bem mais perto.

O presente nos presenteando
Com o já presente e antigo medo.
E amanhã, quando o sol estiver brilhando,
O tal presente já será passado.

Viçosa, 20/12/2012

Cristiano Durães

Palavras quase soltas

Narciso, néctar e natal.
Flor, dulçor e mal.
Névoa, núvem e noite.
Frio, distância e sol.

São palavras quase soltas
Bailando no salão da poesia.
São sentidos turvos e noites caladas

Que minha boca emudecida soltaria.

Chega de escrever, né? 

Viçosa, 20/12/2012

Cristiano Durães

quinta-feira, 20 de dezembro de 2012

Sem futuro algum

Ame!
Pois o amor
Nutre a poesia.

Chora! 
Pois o sal dos prantos
É quem salga o mar dos versos.

Canta!
Pois o arranhar da garganta
É que toca o gemido d'alma.

Viva!
Pois um dia
A vida é quem se esgota.

Ignore!
Pois a visão que tens de mim
É a que pretendo manter.

Viçosa, Não sei a data

Cristiano Durães

quarta-feira, 19 de dezembro de 2012

Novamente tudo novo... de novo

Novamente me atordôo
A pele tênue no calor da noite
Parece não se importar com vôo
De um pássaro tão contente.

Leio "Bom dia"*¹
Pela milésima vez...
Quem diria!
Quanta lucidez!

E a lucidez se alucina
Ao ver que não é lúcida.
Se alucina também a sina
Que carrega a poética vida.

Espantoso medo batendo na porta.
Traz consigo a falta de fé.
Angustiante a noite do poeta
Quando esfria seu café.

Me diga que não há motivo
Pra novamente pensar
Que novamente é tudo novo... de novo!
Me diga que não vou errar!

Ervália, 17/12/2012

Cristiano Durães

1* Citação de título de poema de Túlio Mattos

Nada além de nada

Medo.
O sim e o não
Se dividem entre cabeça
e Coração.

Desejo.
Exala altivez
A mágoa que me alegra.
Trepida o vento na tez.

Voando...
E o peito arqueja
Um trinar dos deuses.
Veja Eros! Veja!

Ervália, 17/12/2012

Cristiano Durães

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

Destruidores!

Il ya deux destroyers puissants: le temps et l'adversité.
 

Alfred de Musset

Apelo...

Misericórdia, pra onde fostes?
Paus e pedras os homens lançam!
Os verbos são maléficos e ferozes!

Silentes noites de discórdia
No campo esverdeado dançam 
Se perguntando pra onde fostes, Misericórdia!

Na escuma das ondas
Os grãos de areia se perderam.
É negro o mar quando faltas!

Misericórdia tão perene!
As sombras se alegram,
Mesmo que o sol acene!

Misericórdia tão fugaz!
Os tenores já solfejam
Um canto diminuto e sagaz!

Que açoite! Que medrar!
Trançados os cabelos ainda perfumam!
Que noite! Que luar!

Misericórdia, vem me mostrar
Que as mulheres já se coroam
E que as correntes irão se arrebentar!

Misericórdia, pra onde fostes?
Os sonhos futurosos choram!
Misericórdia, ainda não voltastes?

Viçosa, 13/12/2012

Cristiano Durães 

Néctar

Nada de novo na natura.
A chuva tamborila
Na vidraça manchada
Pelas cores do narciso.

Nunca naveguei
Entre a neblina nauseante
Do negrume da noite que nutre
A nobreza do amor noctívago.

Ervália, 13/12/2012

Cristiano Durães

Fin d'après midi

Distante do fim da noite.
Delirante como os violinos de Vivaldi.
Desde os tempos mais sombrios
Devaneios surgem nele.

Largo desalento se antecipa.
Latente perecer da alegria turva.
Longínquo e silente como a morte.
Lentamente acomoda-se na gente.

Santificada escuridão vem engolindo!
Se abrindo em grossos novelos de lã escura.
Serena e fria solidão na relva;
Sacra e rara solidão na pedra.

Adormecido,
Apenas deixa os vestígios
Atentos e desvanecidos
À alva lua dos amores.

Viçosa, 13/12/2012

Cristiano Durães

terça-feira, 11 de dezembro de 2012

Cheval de mer

Que me perdoe o passado,
Mas o sorriso é presente
E a alegria talvez futura.

Que se abra o céu,
Pois os sonhos estão na terra
E as verdades no universo!

Que me perdoe a poesia,
Mas nada cabe nas rimas
E da ansiedade nascem os versos!

Que me abra um sorriso
E que a imensidão de lágrimas
Seja apenas do céu aos prantos!

Que se aquiete a dor
Que vive entre o toque da mão do amor
E o idioma tão belo do destino.

E que cantem os pássaros!
E que a natureza se alucine,
Pois em meio a tanta selvageria
Resumo tudo em cavalos marinhos!

Ervália, 10/12/2012

Cristiano Durães

sexta-feira, 7 de dezembro de 2012

O início do fim das flores

                        "A morte surda caminha ao meu lado
                         E eu não sei em que esquina
                         Ela vai me beijar"
                                RAUL SANTOS SEIXAS

Alguém aí?
Preciso de duas respostas.
Por que pergunto?
Por que estou aqui?

Sagrando e sangrando.
Sou poesia doente
Sou poema sem estrofe.
Um cubo de gelo quente.

Ainda pergunto o mesmo
E sempre hei de perguntar.
Diga-me: Por que permanecer na treva?
Por que não brilhar?

O chão faminto
Leva vidas e leva ossos.
A mente já caída
Descarta sonhos e esforços.

Viçosa, 07/12/2012

Cristiano Durães

Doente...

O escuro e sombrio quarto
é refúgio para a labilidade
Da tão volátil e adoecida
Felicidade.

Ei! Você que foge de tudo!
Me ensina a correr!
Cansei-me de caminhar!
Me ensina a morrer!

Um banho de sangue
E a ânsia não é desejo.
O amargo na boca calada
É mais forte que o dulçor do beijo.

 Viçosa, 07/12/2012

Cristiano Durães




 

quinta-feira, 6 de dezembro de 2012

Esqueci

Me diga que não é normal.
Me assusta o seu desdém
Me diga que não é banal
E que você vai mais além.

Legal né? Comecei a escrever um poema e descobri que estou sem uma ponta de inspiração. Aí eu resolvi pensar em princípio das coisas e loucura. Eu sei: é bem clichê e provavelmente vocês vão encontrar trechos de "plágios", mas, já aviso que uma única idéia vivendo em duas cabeças diferentes e desconhecidas não é plágio. É uma forma de provar que temos padrões.
    Pois então... Eu não lembro o que eu estava pensando. Acho que é suficiente dizer que não sabemos nada, não somos nada além de um sonho (pense comigo: Num sonho você não sabe como chegou até o lugar onde ele acontece. Você se lembra de algo além de agora? Pense.) e não chegaremos a lugar nenhum. Motivador né? Me mostra que pensar é bem mais bonito do que revelador.

domingo, 2 de dezembro de 2012

Poeta cansado

Cansado do cansaço.
O coração que se cansou de bater
Desfaz tudo o que faço.
Me canso de me perder.

Os céus cansados de chover
Se abrem e se cansam de brilhar.
Canso-me da água a bater
No muro a desmoronar.

As rimas cansadas de serem pobres
Se desfazem e se cansam de rimar.
Os olhos cansados de ver as sortes
Derramam lágrimas cansadas a se desvelar.

E os braços cansados de trabalhar
Fraquejam e se cansam dos descansos.
A nação cansada de fracassar
Deseja ter pra si mais homens cansados.

Cansei-me de delirar.
Cansei-me da falta de ser.
Hei de adormecer no mar
E nesse mar de cansaços, morrer.

Ervália, 02/12/2012

Cristiano Durães