"E nos lábios derrama-se a lembrança
Do passado a sorrir nos prantos d'hoje!
Cobre-me o coração a vaga mansa
De uma saudade que suspira e foge!
E lembro às vezes o palor da vida
Do gélido cadáver do suicida."
Álvares de Azevedo
Presente latente nostalgia.
Na fronte tão langue se embebia
Impetuosos versos desvairados
Tal qual insônia tão tonante
Derramando-se vigorante
Nos sonhos dos negrumes mais profundos.
Os charutos foram esquecidos
Assim como os vinhos rubicundos.
As auroras não se perderam
Nas chamas virtuosas
Das dores tortuosas
Que os amores viris criaram.
Alva lua dos amores! Delírios!
Doirado sol dos sangrentos martírios!
Orvalhadas flores no jardim
Perderam o brilho da poesia!
Modinha tão sagaz se euxauria
Nos eflúvios de langue festim!
Quantas noites em feroz devaneio;
Quantas vidas de tão tonante enleio
Nas filaúcias noturnas eu cantei?
Por Deus! Quantos vinhos madeira
Em falsa noite derradeira
Eu- tão embriagado e casto- degustei?
Nas noites no campo revelava
Meus sagrados segredos à relva.
Na imundície do chão dessas ruas
Deixei as gotas mais salgadas;
As vãs lágrimas mais doridas
Emanadas nas auroras mais cruas.
Os amores se fartavam;
Se abriam e lamentavam
Com as rosas do himeneu,
Tais quais Julieta tão serena
Recebeu numa noite vil e amena
De seu desvairado Romeu.
Vede? A poesia se extinguiu.
Arrebatou-se; se exauriu.
Desafinou-se a virtuosa lira
Que ornava o bailar da turva donzela.
Arrebentou-se a corda da viola
Que ouvia a espanhola que delira.
Pois que retornem os sonhos!
Os mais louçãs ou medonhos
Nos quais a poesia adormece!
Que importa se a vil vida
Vive desinibida
Se na noite ela se enlanguece?
Ervália, 28/12/2012
Cristiano Durães
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